Sim, eu sei.


Praia da Enseada, Ubatuba, SP.
Sim, eu sei que a amamentação é o continuum da gestação.
Mas... e o continuum da amamentação?

Quando se amamenta prolongadamente, os bebês se saciam das mais profundas necessidades físicas e emocionais, tornando-se mais independentes e seguros.

Quando lemos isso nos benefícios da amamentação ficamos felizes por que nesse mundo louco em que vivemos, ser independente e seguro de sí é uma das condições para a sobrevivência. Porém, quando se amamenta prolongadamente, nós mães, mudamos nossa vida em função de amamentar. E deixamos muitas coisas de lado. Muitas coisas que preenchiam nossas vidas antes do bebê nascer. Preenchemos nossa vida com leite materno. Muitas vezes cansamos, nos esgotamos, sentimos saudades do passado. Mas quando temos esse tempo de volta, muitas vezes não sabemos o que fazer com ele. Eu já havia esgotado a necessidade de amamentar Marina porém, esqueci de que minha vida não seria mais a mesma. A sensação de inutilidade da nossa parte vêm aos poucos. Devagarzinho.

Um tetê por um carinho. Falei isso metade do blog. E não fiz quando tudo acabou. Deixei de amamentar ao mesmo tempo em que engravidei e abortei. Foi muita coisa junto. Não soube lidar. Marina também não.

A morte do meu avô dois dias depois do início do meu aborto também foi muito dura. E a primeira parada cardíaca dele foi minutos depois de eu vê-lo e minutos antes de eu sentir as primeiras cólicas. A minha DPP seria para o aniversário dele. Foi uma semana muito difícil para mim e para minha família.

Talvez tenhamos criado uma distância pela dor da perda. E eu me perdi. Achei que não era mais útil nem à Marina. O que eu tinha para dar à ela? Não pude fazer nada pela gestação perdida e não tinha mais leite. Tudo se acabou em 40 dias. E eu acabei junto.

Tonturas, quedas de pressão, tristeza, me via de um jeito diferente no espelho, Larguei os cremes, os cuidados comigo e fui deixando. Me deixando. Os cabelos brancos, as roupas. A tensão foi subindo pela minha coluna até travar meus maxilares. 30 dias de muitas dores, cansaço, remédios, me dopei de medicamentos.
Marina, 3 anos e 6 meses.

A perda da filha da minha prima querida às 36 semanas de gestação nos afundou mais um pouco. E eu fui bem lá no fundo. Passei a perder o sono e a não controlar mais a taquicardia e a ansiedade. Me afastei de tudo. Da costura, do blog, do site, da militância, dos atendimentos, dos meus grupos. Parei tudo.

De todas as ajudas que busquei, as que me trouxeram mais alívio foram meus medicamentos fitoterápicos, massagens, retomar minha fé e uma viagem à praia. E o texto anterior, que foi o início desse desabafo. E agora estou eu aqui, em recuperação. Um dia de cada vez. Ainda precisando de ajuda. E aceitando a ajuda. Mas, melhor.

A resposta à minha pergunta... o continuum da amamentação é o amor. O carinho. Um tetê por um carinho até que só restem o carinho. O continuum da amamentação é a MATERNAGEM.

E eu vou resgatá-la. Vou me resgatar.

Comentários

  1. Meu coração com seu coração, ok? Beijo!

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  2. Fabi, eu fiquei depois da vivência de parto que tive do Cassiano, a maior experiencia de fé na Vida que eu já passei até hoje, com a chegada dela no aconchego do lar, apenas comigo e meu marido... foi um êxtase tão arrebatador, foi como ir ao céu... só que depois que o tempo passou e tudo 'se foi' (e as visitas rareiam, e a rotina sufoca, e 3 filhos pequenininhos pra cuidar te consomem, e o trabalho aumenta de demanda), que eu fiquei perdida, lá 'nas nuvens', sabe? Isso começou 1 ano depois do parto. Não conseguia literalmente voltar pra 'terra' e assumir a maternagem, queria ficar lá naquele êxtase... também parei de me cuidar, esquecia de comer, meu guarda roupa não me 'cabia' mais, rejeitei várias amizades, mudei o blog, questionei tudo... me sentia meio múmia, estava nos lugares só em corpo.
    Foi lendo Clarissa Pinkola (Mulheres que correm com os lobos) que eu me dei conta de que estava vivendo um luto e que devia 'mergulhar' dentro de mim para me nutrir, buscar quem eu sou, do que gosto, me amar e que precisava pedir colo! Sim, a 'mulher-invencível' precisa de colo, de ser cuidada... foi muita doação, entrega, confiança, foi muito 'eles'...
    Este teu texto é lindo e me emocionou pois eu também, em breve, não terei mais essa liga invisível do seio ao filho. O meu caçula tem 28 meses e eu penso que talvez seja a ultima experiencia de amamentação da vida... e vc me fez valorizar ainda mais este tempo que me resta. Principalmente pelo 'quando se amamenta prolongadamente, nós mães, mudamos nossa vida em função de amamentar' quantas coisas deixamos de fazer e viver por esta doação. Amamentar hoje é como ir na contra-mão da maré. Da maré que nos empurra à cisão, à separação do bebê, que nos empurra a comprar 'coisas' para alimentá-lo, a estarmos perfeitamente apresentáveis na sociedade, à voltar a trabalhar...
    Meu conselho e que deu certo pra mim:
    1. Se doar a si mesma. Isso é um ensinamento também pra Marina que aprenderá a também se por como prioridade quando o tempo certo chegar. Faça pelo menos uma coisa única e exclusivamente pra si mesma, todos os dias... no começo parece meio forçado (pela falta de hábito) depois, com a constância, vai fluindo mais fácil... E vou te dizer uma coisa, com este exercício, a gente se dá conta de que faz muito pouco pra sim mesma! Tem dificuldade de descobrir e de insistir... mas fazer isto também é educar sua filha e amar seu marido pois o amor começa em nós e por nós...
    Eu fui dançar. Cuidar mais do meu jardim. Fiz alguns cursos. Fiz pacote de drenagem. Criamos uma ciranda de mulheres com encontros semanais, alugava filmes que gostava, cozinhava pra mim, meditava, chorava sem censuras. A microfisioterapia tb ajudou...
    Alguns momentos era como se eu estivesse privando meus filhos, ou marido, do meu convívio, aquela sensação esquisita de ser egoísta, mas todas as vezes que eu voltava, eu voltava melhor!!!
    Porque 'se amar' e 'se cuidar' é um dos grandes ensinamentos que vc pode passar pra Marina... vc ama o outro também quando SE AMA...
    Boa sorte na tua jornada... <3 Cariny

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  3. O continuum da amamentação é ver sua filha linda crescendo e se tornando uma pessoa de bem. vcs estarão sempre ligadas, não tenha dúvidas. Cheguei ao seu blog anteontem e li inumeros posts e fiquei emocionada c a sua história. Força!!!! Vc me inspirou muito com seus posts! Ainda não sou mãe mas estou me preparando p isso. Que Deus permita que eu consiga! E que Ele te cure logo!
    Luciana RJ

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    1. Luciana, que delícia saber que está se preparando! Assim tudo fica mais fácil! Pode ficar tranquila que tudo vai dar certo. Muito boa sorte, e eu estou bem, melhorando a cada dia, Graças a Deus. Qdo quiser conversar, estarei por aqui! Grande beijo Fabi

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    2. Que bom que vc esta melhorando! Continuarei visitando, esperando mais notícias suas e da Marina :)
      Beijo!
      Luciana RJ

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