Sobre a mãe que amamenta após os 2 anos

Marina mamando aos 2 anos
A amamentação deve ser mantida exclusiva, sem água, chás, sucos ou outros alimentos até os seis meses de vida e, após essa idade, deve ser complementada com outros alimentos até os 2 anos de idade ou mais.
  
Essa recomendação não é minha. É da Organização Mundial da Saúde e também do Ministério da Saúde brasileiro que, por sua vez, também diz que Amamentar é muito mais do alimentar a criança.

Sendo assim, não é difícil entender que há inúmeros fatores que, somados, resultam nessa recomendação. O leite não vira água da noite para o dia e, mesmo que virasse, se ele não é só alimento, também tem seus benefícios no desenvolvimento da criança, na afetividade e na ligação entre mãe e filho. Assim sendo, oficialmente, o ato de amamentar e ser amamentado por mais de 2 anos é algo reconhecido nacional e internacionalmente e é uma recomendação expressa, amplamente divulgada. No entanto, não são todas as mães que amamentam por 2 anos ou mais. Estamos falando aqui só dessas mães, porque na verdade, ainda estão muito longe do ideal as taxas de amamentação no Brasil.

Mas quem é a mãe que amamenta mais de 2 anos?

É a mãe que passou por várias etapas do processo de amamentação, que encontrou apoio para amamentar, para conseguir ir à fundo na relação com seu filho, que superou muitas dificuldades, muitas dores, sono perdido. Que conseguiu voltar a trabalhar aos 4 meses ou até antes sem parar de amamentar, que não caiu nas armadilhas da mídia e do comércio que concorre com o aleitamento, que conseguiu enfrentar o profissional de saúde que tinha interesses comerciais, ou aquele que tentou desmamar por inúmeras razões ou que disse que chupeta era bacana e que mamadeira não causava desmame. Que conseguiu convencer a escola e a babá de que seu leite era tudo o que seu filho precisava. Que conseguiu driblar a família e todos aqueles que a cercava com olhares de desaprovação. Que teve apoio. Que teve ajuda. Que pôde se doar. Que se superou. Que se transformou. Que lutou e que luta nesta doce rotina materna.
  
Para que eu não seja mal interpretada, não julgo a mulher que não amamenta ou que amamentou menos de 2 anos. Aqui só estou falando deste pequeno grupo, que se esconde para amamentar, que ensina seu filho a não pedir para mamar em público, que esconde que amamenta do pediatra, do ginecologista, do dentista, da psicóloga e da pedagoga da escola. Que amamenta em silêncio. No conforto da sua casa. Que estremece a cada pergunta: você ainda amamenta? Mas ele já está parando, não está? E que sofre de toda sorte de violência verbal que ouve até dos mais próximos que desvalorizam seu leite e reduzem seus filhos a crianças “mimadas”. E, se essa mãe, ainda por cima, não faz uso de bicos artificiais, corre o risco de ser chamada de chupeta por muitos e de terem seus filhos “condenados” verbalmente a serem crianças “apegadas demais”, “dependentes” e “que nunca vão poder viver sozinhas”. Seu leite vira água e tudo o que resta após os 2 anos é “contato físico”.
  
Essa é a mãe que amamenta mais de 2 anos. É a mulher que, além de todas as brigas do dia-a-dia, se expõe a mais uma.


A briga da liberdade de fazer de seu peito, alimento, colo, carinho, de ter o contato com seu íntimo, de experimentar algo que só as mulheres podem ter e de vivenciar a maternidade do seu jeito.

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