A primavera chegou. Mas as minhas borboletas partiram.


Eu sei que é um assunto pesado para este blog cujo assunto é amor, alegrias. Mas como também é um blog que fala sobre experiências, dificuldades, superação, acredito que vai caber.

As borboletas que eu sentia no útero foram sumindo. E isso me deu a certeza de que algo havia parado.

Há uma semana sentia que a gestação de 6 semanas não ia bem. Os sintomas foram sumindo porém, as dores foram aumentando e eu passei a insistir em refazer os exames e a querer acompanhar mais de perto.

Sentia que meu ventre não era mais habitado. Minhas mamas não apresentavam sinais de vida. Meu leite secou de vez. Fui desinchando. Meus cabelos mudaram, meu apetite também.

Ninguém acreditava naquilo que eu estava sentindo e só diziam que eu tinha que esperar. Para ajudar, fiz um ultrassom com um médico-sem-mãe que não me deixou tampouco ver meu útero ainda sem vestígios de gravidez: "Está cedo, não há nada para você ver" e plantou-se em minha frente de forma que eu não visse o monitor. Violência obstétrica na primeira ultra...

Dia  20 de setembro, 12 dias depois do primeiro positivo, alguém me ouviu durante um momento em que eu achei que não podia mais. Saí do controle e busquei ajuda. A ajuda veio. De mãos dadas com meu marido, refizemos os exames. Beta crescendo muito lentamente o que poderia indicar uma gravidez muito inicial (o que eu não acreditava), ou uma gravidez ectópica (somado a uma ultra cujo endométrio não havia crescido e sem sinais de gravidez) ou uma gestação anembrionada.

De uma coisa eu tinha certeza.  EU IA PARIR. Fosse dali alguns dias, fosse dali 30 semanas. Ninguém ia arrancar nada de mim. Eu resolveria. Meu corpo resolveria.

Na ultra, graças a Deus, o saco gestacional estava onde deveria estar, no endométrio, o que gerou um alívio muito grande, pois não queríamos uma cirurgia. Porém, não havia vestígios de saco vitelínico. O saco gestacional estava, aparentemente, vazio. A orientação era de esperar para refazer o beta e refazer a ultra dali uns dias para realmente ver o embrião.

Naquela noite mesmo, à meia-noite do dia 21/09, comecei a gotejar. Eu e meu marido resolvemos que não era necessário se apressar. Avisei a obstetra e, ao lado do meu marido, dormimos. Se precisasse sair, que saísse. Não impediríamos a natureza. Pela manhã, fui ao encontro dela e resolvemos fazer uso da progesterona mas queria ter certeza de que não estaria forçando algo inviável a continuar. Fui para casa, o gotejamento não cessou mais.

Ao lado do meu marido e de minha filha, repousei, mas logo comecei a sentir a dilatação. Dores muito fortes acompanhadas de cólicas. Meu colo estava dilatando. Repousei.

No dia seguinte, começaram as contrações. Contrações verdadeiras, me pus no chuveiro, me concentrei e aceitei. Tive o colo do meu marido, da minha filha. Aceitamos. E, com esta aceitação, o sangramento não parou mais. Endométrio, sangue, vasinhos. Tudo foi saindo. A cada contração, eu sentia que meu corpo estava ali, trabalhando para que tudo se resolvesse. E eu fui aceitando cada vez mais.

Hoje, 3 dias depois, ainda com contrações (hoje tive a mais forte de todas, com bastante descolamento), estou aqui, escrevendo.

Marina já sabe que o irmãozinho vai demorar um pouco mais. Ela perguntou se Papai do Céu não deixou ele vir. Eu disse que não sabia, mas que deveríamos esperar e esperar felizes que ele viria na hora certa.

Eu e Ricardo já passamos por muita coisa juntos. E acho que, de toda essa história de 21 anos juntos, no ano em que comemoramos 10 anos de casados e, exatamente engravidando no aniversário de casamento, percebo que foi a situação mais difícil ao mesmo tempo em que fomos o mais forte que fomos nesse tempo todo. Estamos muito seguros e em paz. Fomos presenteados por alguém que só precisava de 20 dias do nosso amor para se completar e ir embora. Só tenho a agradecer a oportunidade e alegria daqueles primeiros dias.

Agradeço a todos pela torcida. Mas agora me recolho. Uma semana. Vou me entregar às minhas contrações e ao nosso luto.

Fabi

Comentários

  1. Poxa, Fabi.... algumas coisas não dependem da gente, né? Que você tenha a força e a serenidade para lidar com esse momento. Grande abraço.

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  2. Poxa..vim aqui com saudades de vc e leio esse post...sei como se sente, passei por isso na gravidez antes do Theo, mas Deus trará o irmãozinho da Marina no momento certo, e que ele venha trazendo mais alegrias a sua família. Estou mesmo de longe, sempre torcendo por vc, pois tenho um carinho imeeennnsssoooo por ti!
    Beijos, Thaiz

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  3. Sinto muito querida....me emocionei ao ler essas palavras tão tristes, que jamais esperava ler....mas infelizmente fez parte da sua vida e oremos para que não aconteça mais. Força, fé, e perseverança sempre....Deus está iluminando e protegendo esse momento difícil da vida de vcs...uma família tão bela e que deve permanecer unida, para que na vontade e momento de Deus receber o seu presente com o mesmo amor que foi recebida a princesinha Marina....sinto muito,,,se precisar estou a disposição. Receba o meu abraço....fiquem com Deus....Beijos

    Fabiana Silva

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  4. Sinto-me abraçada pelas suas palavras ou melhor,tocada.Passei por esse processo...Um forte abraço,família linda.

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  5. Sinto muito também... muito triste! Não há nada a ser dito. Apenas reforce-se na fé de que tudo está onde deveria estar...
    E que os votos de amor e parceria se reforcem sempre, infinitamente!
    http://www.sentinelaavancada.com.br/2013/05/o-amor-e-seus-votos.html

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